quarta-feira, 11 de junho de 2008

Voltei a Cantar

(Lamartine Babo)

Voltei a cantar
porque senti saudade
do tempo em que eu andava pela cidade
Com sustenidos e bemóis
Desenhados na minha voz
E a saudade rola, rola
Como um disco de vitrola
Começo a recordar
Cantando em tom maior
E acabo no tom menor

Voltei a cantar
porque senti saudade
do tempo em que eu andava na cidade
Com sustenidos e bemois
Desenhados na minha voz
Ó meu samba, velho amigo
Novamente estou contigo
Uma vida me transtorna
Como um filho à casa torna
De ti nunca me esqueci


Este samba de Lamartine Babo, que ganhou notoriedade na voz de Mário Reis, foi o escolhido por Chico Buarque para abrir seu show “Carioca”, depois de sete anos de recesso. No show “Paratodos”, o cantor já havia composto “De volta ao Samba” com o mesmo fim: desculpar-se com seus fãs por tão longa ausência.
Desta vez, talvez por reconhecer a genealogia de seu canto, Chico Buarque tenha optado por retornar aos palcos homenageando Mário Reis e tomando emprestados os versos de Lamartine, carioca como ele e o nome de seu show.
Mário Reis era dono de voz fina como a de Chico, descobridor de divisões inusitadas, mestre no uso do microfone e destoava dos cantores de vozeirão, predominantes nos anos 30 e 40. Foi um dos principais intérpretes da obra de Noel Rosa e - o que muitos não sabem - chegou a gravar, já em fim de carreira, "A Banda", de Chico Buarque.
Além disso, Mário Reis era um bon vivant. Morou muitos anos no Copacabana Palace e privava da companhia dos mais ricos aristocratas cariocas. Talvez por isso, às vezes, sua carreira era negligenciada e Mário anunciava que iria encerrá-la. Depois mudava de idéia, retomando-a e redobrando o sucesso. Obviamente, foi numa dessa ocasiões, em 1939, que Lamartine Babo compôs “Voltei a Cantar” a pedido do amigo, para que este abrisse seu show de retorno “Jujoux e Balangandans”, no Theatro Municipal.
Mas este texto presta-se menos para refletir sobre a música de abertura de “Carioca” e mais para anunciar a retomada do blog.
Dos nove meses que levaram à gestação deste texto, os últimos três foram gastos pensando na desculpa que daria aos meus leitores, que já somam mais de três, de acordo com levantamentos de copos seriíssimos por mim efetuados ao longo deste período.
A verdade irrefutável é que fui acometido de uma súbita e alongada preguiça macunaímica de escrever. Mas não pensem vocês que adquiri vergonha na cara. Isso jamais!
Portanto, podem voltar a passar por aqui de vez em quando, que devem pintar algumas novidades. Me aguardem.
Voltei a cantar porque senti saudade.

6 comentários:

xthingswesayx disse...

Adorei!
A idéia do "por trás da letra" é sensacional!
Beijo!

hwneto disse...

Finalmente algo novo neste blog de entrelinhas!!

professor Jorge Eduardo Garcia disse...

Conheci o Mario Reis - adorava minha filha Antonia Ameial- e o considero o Grão-Senhor da musica popular brasileira. Tenho saudades de bebericar ao som dessa musica com meu eterno e saudoso amigo Alberto Assef Valadares
..é a vida

professor Jorge Eduardo Garcia disse...

Conheci o Mario Reis, O Grão Senhor da musica popular brasileira. Ele adorava minha filha mais velha, a Antonia Amelia.
Tenho saudades de bebericar ouvindo essa musica com meu eterno e saudoso amigo Alberto Assef Valada

Wilkie disse...

Volta de novo, Luís!

Anônimo disse...

Mario Reis passava as tardes no Country Club em Ipanema onde sempre bebia demais. Lá pelas tantas seu vocabulário baixava muito, para a indiferença solidária das madames da alta sociedade, como que dizessem: este é o nosso bêbado.