Parece que dizes
Te amo, Maria
Na fotografia
Estamos felizes
Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador
Vai ser engraçado
Se tens um novo amor
Me vejo a teu lado
Te amo?
Não lembro
Parece dezembro
De um ano dourado
Parece bolero
Te quero, te quero
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais
Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
E desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais
1980 © - Marola Edições Musicais Ltda.
Grande parte das canções de Chico Buarque é feita por encomenda.
Filmes, peças de teatro, balés são a verdadeira “inspiração” do artista. Escrita a peça, feito o copião do filme, a encomenda é entregue ao compositor.
Mas ele avisa: “Eu sou confiável, mas o compositor não é”.
Ou seja, o texto é escrito, o filme, filmado e a trilha, simplesmente, não fica pronta. Não por desídia, desleixo ou negligência do compositor, defende-se Chico, mas por dificuldade mesmo de fazer a letra, a canção.
Os parceiros mais chegados já conhecem a peculiaridade do amigo.
É famosa a história de “Wave”. Tom Jobim enviou-lhe a melodia da canção. Passado algum tempo, cobrou o parceiro, que, encabulado, reconheceu que só conseguira escrever um verso: “Vou te contar...”. Cansado de esperar, Tom fez o resto, se é que se pode chamar "resto" a letra de "Wave".
Grande parte das canções de Chico Buarque é feita por encomenda.
Filmes, peças de teatro, balés são a verdadeira “inspiração” do artista. Escrita a peça, feito o copião do filme, a encomenda é entregue ao compositor.
Mas ele avisa: “Eu sou confiável, mas o compositor não é”.
Ou seja, o texto é escrito, o filme, filmado e a trilha, simplesmente, não fica pronta. Não por desídia, desleixo ou negligência do compositor, defende-se Chico, mas por dificuldade mesmo de fazer a letra, a canção.
Os parceiros mais chegados já conhecem a peculiaridade do amigo.
É famosa a história de “Wave”. Tom Jobim enviou-lhe a melodia da canção. Passado algum tempo, cobrou o parceiro, que, encabulado, reconheceu que só conseguira escrever um verso: “Vou te contar...”. Cansado de esperar, Tom fez o resto, se é que se pode chamar "resto" a letra de "Wave".
Com a canção “Luiza”, ocorreu o mesmo. Mais um branco de Chico, que se esquivou com o argumento de que o melhor letrista de Tom Jobim era Tom Jobim.
Até mesmo o grande Astor Piazzola foi vítima do compositor. No início dos anos 70, o maestro argentino mandou uma música para Chico pôr a letra. O letrista agradeceu a preferência e nunca mais deu as caras.
Passados os anos, já em meados da década de 80, Piazzola, que nem se lembrava mais da própria música, veio participar do programa “Chico e Caetano”, na TV Globo. Animado com a presença do argentino e a possibilidade de concretizar a parceria internacional, Chico Buarque prometeu que, finalmente, colocaria a tão esperada letra na já esquecida melodia. Com a animação do letrista, animou-se o maestro, que pôs-se, imediatamente, a ouvir a fita e trabalhar no arranjo. Na semana seguinte, já no estúdio, Piazzola recebeu a notícia de que Chico se atrasaria, pois estava jogando futebol. E pior: não conseguira fazer a letra.
O argentino ficou fulo. Não sabia do histórico do possível parceiro. Sentiu-se desrespeitado. Julgava que fosse desleixo. Não entendia como um compositor com a tarimba, a experiência de Chico Buarque, simplesmente, não conseguia colocar letra em sua música.
Amigo de ambos, Tom Jobim se divertia com a situação, botando mais lenha na fogueira e, aos risos, depreciava o parceiro preguiçoso: “O Chico é assim mesmo, ele fica jogando futebol ...”. Só a zombaria do maestro brasileiro foi capaz de acalmar o ânimo caliente do argentino.
Vê-se, portanto, que Tom era gato escaldado, mas não temia água fria.
Tanto assim que, ao receber encomenda da TV Globo para compor a trilha de abertura da minissérie “Anos Dourados”, imediatamente, pediu a Chico que fizesse a letra.
Até mesmo o grande Astor Piazzola foi vítima do compositor. No início dos anos 70, o maestro argentino mandou uma música para Chico pôr a letra. O letrista agradeceu a preferência e nunca mais deu as caras.
Passados os anos, já em meados da década de 80, Piazzola, que nem se lembrava mais da própria música, veio participar do programa “Chico e Caetano”, na TV Globo. Animado com a presença do argentino e a possibilidade de concretizar a parceria internacional, Chico Buarque prometeu que, finalmente, colocaria a tão esperada letra na já esquecida melodia. Com a animação do letrista, animou-se o maestro, que pôs-se, imediatamente, a ouvir a fita e trabalhar no arranjo. Na semana seguinte, já no estúdio, Piazzola recebeu a notícia de que Chico se atrasaria, pois estava jogando futebol. E pior: não conseguira fazer a letra.
O argentino ficou fulo. Não sabia do histórico do possível parceiro. Sentiu-se desrespeitado. Julgava que fosse desleixo. Não entendia como um compositor com a tarimba, a experiência de Chico Buarque, simplesmente, não conseguia colocar letra em sua música.
Amigo de ambos, Tom Jobim se divertia com a situação, botando mais lenha na fogueira e, aos risos, depreciava o parceiro preguiçoso: “O Chico é assim mesmo, ele fica jogando futebol ...”. Só a zombaria do maestro brasileiro foi capaz de acalmar o ânimo caliente do argentino.
Vê-se, portanto, que Tom era gato escaldado, mas não temia água fria.
Tanto assim que, ao receber encomenda da TV Globo para compor a trilha de abertura da minissérie “Anos Dourados”, imediatamente, pediu a Chico que fizesse a letra.
Meses depois, Jobim assistia à estréia do programa, com sua música na abertura. Sem letra.
Chico Buarque, perna avariada no futebol, viu-se obrigado a acompanhar a trama na telinha. Em vão. A letra não saía.
Saiu do ar o programa e a letra saiu.
O letrista veio com nova e esfarrapada desculpa: “Eu não atrasei, a minissérie é que foi precipitada”.
Talvez a demora se explique pelo preciosismo do autor.
Na exposição "Chico Buarque - O tempo e o Artista, com curadoria de Zeca Buarque Ferreira, sobrinho do homenageado, a letra de "Anos Dourados" é exposta, praticamente pronta, datilografada, batida à máquina, com algumas alterações feitas à mão. Dentre elas, a substituição do artigo indefinido “um”, pelo definido “o”, quando se afirma que “é desconcertante rever o grande amor”.
Um grande amor qualquer diria, sem dificuldades, "Teus beijos nunca mais". Não deixaria confissões no gravador, nem viveria insanos dezembros dourados.
Na exposição "Chico Buarque - O tempo e o Artista, com curadoria de Zeca Buarque Ferreira, sobrinho do homenageado, a letra de "Anos Dourados" é exposta, praticamente pronta, datilografada, batida à máquina, com algumas alterações feitas à mão. Dentre elas, a substituição do artigo indefinido “um”, pelo definido “o”, quando se afirma que “é desconcertante rever o grande amor”.
Um grande amor qualquer diria, sem dificuldades, "Teus beijos nunca mais". Não deixaria confissões no gravador, nem viveria insanos dezembros dourados.
A isto, um grande amor não se presta. Só o grande amor é capaz.
E de fazer esta distinção, Chico Buarque. Ainda que demorem alguns dezembros.